“(...) os autores examinaram os efeitos de respostas de estresse agudo e ansiedade materna na resposta fisiológica de batimento cardíaco fetal. (...) em adolescentes grávidas, os autores verificaram a relação entre os resultados de medidas emocionais maternas (de traço e estado emocional) e medidas biológicas e os resultados da reatividade do sistema nervoso autônomo do feto, particularmente, o tônus cardíaco.” (Correia; Linhares, 2007)
Os efeitos da ansiedade e da depressão materna pré-natal e pós-natal são responsáveis por elevar de duas a três vezes a média de problemas emocionais e comportamentais a partir dos 4 anos de idade. Seguindo esse raciocínio, foi verificado que mães que apresentaram problemas emocionais durante e após a gravidez tiveram filhos com maior probabilidade para desenvolvimento de psicopatologias como depressão maior e transtornos de comportamento na adolescência.
Entre pais e mães, as mulheres apresentam maior nível de ansiedade - tanto pelas alterações da gestação quanto pelas pressões sociais. Solomon (2012) investiga os determinantes sociais da depressão materna (maternity blues), já que é consequência patriarcal que as mães sejam mais ou totalmente responsáveis pela criação dos filhos e o pai gradativamente se afaste emocionalmente. A depressão materna inscreve ainda a ansiedade da mãe em relação à potencial perda da criança, criando comportamentos de apego negativo.
“Há agora provas substanciais de que bebês de mães deprimidas têm um perfil de desregulação que afeta seu comportamento e fisiologia, e que isso provavelmente deriva da sua exposição pré-natal a um desequilíbrio bioquímico em suas mães (Field et al., 2004; Gerardin, Wendland, Bodeau et al., 2010). Como a placenta é bastante permeável, mães compartilham seus hormônios e neurotransmissores com o feto. Além disso, alterações bioquímicas maternas podem ser agravadas pelos efeitos gerais de depressão no comportamento e estilo de vida, como dieta inadequada (Steer et al., 1992), distúrbios do sono (Rieman, Berger e Vodeholzer, 2001), uso de substâncias como nicotina, álcool, drogas e medicamentos e, de modo geral, pouco cuidado com a gravidez e a própria saúde.” (Barr, 2016)
Pesquisas correlacionaram, inclusive, subnutrição materna durante a gestação à maior probabilidade de transtorno esquizofrênico nas crianças.
“Em comparação com as mulheres grávidas não deprimidas, as mulheres com sintomas depressivos têm níveis mais altos de cortisol e norepinefrina, e níveis mais baixos de dopamina e serotonina.” (Barr, 2016). Tal desequilíbrio hormonal das mães é transmitido aos fetos. Tendem a nascer prematuros ou com baixo peso e são fisiologicamente menos maduros: revelam maior assimetria frontal direito em um EEG (eletrencefalograma). Segundo Abrams, Field, Scafidi e Prodromidis (1995), esses recém-nascidos apresentam ainda pontuações mais baixas em orientação, tônus motor, nível de atividade. Armstrong, O’Donnel, McCallum, e Dadds (1998) observaram o aumento de problemas de sono nessas crianças.
Distúrbios no temperamento e expressão emocional, como oscilações rápidas de humor e transtornos de personalidade também foram constatadas como sensibilização persistente dos circuitos do sistema nervoso central como consequência de estresse precoce.
“É concebível que a exposição precoce ao cuidado com tendência negativa e imprevisível de uma mãe deprimida sensibilize o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal que media a resposta ao estresse e está na base do aumento da vulnerabilidade dessas crianças a transtornos de ansiedade e depressão.
Além disso, o estresse durante a gravidez também pode afetar a função intelectual geral e a linguagem do lactente (Gallois e Wendland, 2012).” (Barr, 2016)
Quanto ao abandono afetivo por parte do pai, Eizirik & Bergamann cit. por Benczik (2011) afirma que a ausência paterna gera conflitos no desenvolvimento psicológico e cognitivo da criança, bem como influencia o desenvolvimento de distúrbios de comportamento ligados à insegurança, inferioridade e agressividade (o TPB seria um deles). Em geral, são documentados aumento de ausência nas aulas, risco aumentado de envolvimento com drogas, relacionamento frágil com os pares, depressão, ansiedade, labilidade emocional e a externalização de comportamentos-problemas (Cia, Williams & Aiello, 2005).
A ausência paterna compromete ainda a condição financeira da família, sendo determinante para situações de privação material. Afeta também a capacidade de convivência e os elos sociais, bem como o desempenho acadêmico. Crianças do sexo masculino apresentam problemas relacionados à agressividade e delinquência, enquanto as do sexo feminino refletem essa ausência paterna e sua consequente falta de parâmetros relacionais em seus relacionamentos futuros (principalmente românticos), reproduzindo padrões aprendidos subconscientemente.
Durante a infância, a presença do pai (ou outra referência afetiva e cuidadora) é responsável pelo equilíbrio e aumento de autoestima e segurança, necessárias às habilidades sociais - enquanto sua ausência esvazia o núcleo de confiança da crianca, acarretando problemas no desenvolvimento neural, motor e relacional.
Já na fase da adolescência, segundo Sganzerla e Levandowski (2010), o abandono afetivo paterno potencialmente provoca “manifestações de comportamento delinquentes, porte de arma e embriaguez no contexto escolar além de amadurecimento físico precoce, maior probabilidade de uso de drogas e alto índice de obesidade”, sendo as transgressões sexuais, comportamentais e sociais consequências dessas fragilidades nas composições familiares, em que o adolescente busca em outra linguagem ser reconhecido como sujeito.
Na idade adulta, estudos com indivíduos que cresceram sem referência paterna demonstram a continuidade da insegurança, da baixa auto estima, da dependência emocional e financeira, da ansiedade, dos desvios comportamentais e distúrbios da personalidade na idade adulta.
A instabilidade emocional na gravidez se ancora também em determinantes sociais muito mais amplos, e é comumente sucedida pelo abandono desse companheiro e pai - outro intenso causador de conflitos cognitivos e psicológicos nessas crianças e adultos, que reproduzem suas inseguranças e desordens nos demais vínculos afetivos.
Fontes:
A ausência física e afetiva do pai na percepção dos filhos adultos.
Camila Ceron Damiani; Patrícia Manozzo Colossi.
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-494X2015000200008
Barr, Marcia, Organizadora
Nerurociências e Educação na Primeira Infância: progressos e obstáculos / Marcia Alvaro
Barr. – Brasília; Senado Federal; Comissão de Valorização da Primeira Infância e Cultura da Paz, 2016
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/536046/neurociencias.pdf
Ansiedade materna nos períodos pré e pós-natal: revisão da literatura.
Luciana Leonetti Correia; Maria Beatriz Martins Linhares.
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0104-11692007000400024&script=sci_arttext&tlng=pt
AS CONSEQUÊNCIAS DA AUSÊNCIA PATERNA NA VIDA EMOCIONAL DOS FILHOS.
Edgar Henrique Hein Trapp; Railma de Souza Andrade.
http://uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20180301124653.pdf
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