O leite materno é o primeiro fator preventivo de doenças e um dos mais intensos formadores de vínculo, afeto, intimidade e proteção entre mãe-bebê - não apenas por sua rica composição química quanto pelo contato físico e emocional que envolve o colo e a sucção.
Entretanto, a amamentação não depende apenas da vontade e da decisão da mãe: é também determinada por condições socioeconômicas e demográficas, nível de escolaridade, idade e saúde física e mental da mesma.
Já é sabido que o leite materno estrutura e fortalece o sistema imunológico, protegendo contra uma série de condições físicas, como alergias, obesidade e problemas gastrointestinais; mas além disso, uma série de estudos recentes comprovam também o papel positivo da amamentação durante mais de seis meses na inteligência e na diminuição do risco de distúrbios psicológicos, como estresse crônico, depressão maior, ansiedade, TDAH e esquizofrenia, além de um melhor “(...) desempenho em testes cognitivos, de vocabulário e coordenação visuomotora, além de estar associada a medidas adequadas de altura e da circunferência cefálica, a uma maior renda na idade adulta, e menor ocorrência de problemas de comportamento e transtornos internalizantes.”
Atua, ainda, reduzindo os sintomas de problemas de comportamento no começo da adolescência, e impacta também na socialização da criança, atenção, problemas de atenção e de agressividade (logicamente todos esses fatores dependem de outras variáveis, como gravidez não planejada, condições gestacionais e de parto, saúde mental materna, e uso de substâncias durante a gestação).
A depressão maior é associada a problemas emocionais maternos durante a gravidez e a não ser amamentado; a ansiedade está relacionada ao histórico materno de aborto e natimorte, e febre e doenças durante o primeiro ano de vida; transtornos de conduta estão associados à problemas emocionais durante a gravidez e complicações no parto; a dependência de substâncias é correlacionada ao uso de substâncias pela mãe durante a gravidez; a depressão materna predispõe a criança ao desenvolvimento de distúrbios psicológicos.
A amamentação diminui o risco de alcoolismo, e há evidências de que não apenas atua prevenindo como amenizando sintomas de esquizofrenia (já foi constatada ligação entre esquizofrenia e subnutrição); é comprovada ainda como fator de proteção contra a depressão e ansiedade devido à maior ativação do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal e do fator neurotrófico derivado do cérebro (responsável pela neurogênese).
Isso acontece porque, primeiro, a amamentação é indicativo de interação saudável entre mãe e bebê; segundo, a ocitocina sintetizada durante promove tolerância ao estresse tanto no comportamento materno quanto do bebê; terceiro, a composição do leite materno atua na estruturação cerebral; quarto, o leite materno diminui o risco de doenças associadas à depressão, como hipertensão e diabetes.
A explicação neurobiológica mais defendida é a de que o leite materno é composto por ácidos graxos essenciais (como ácido araquidônico [AA] e ácido docosa-hexaenóico [DHA]), que agem diretamente no desenvolvimento cerebral - este é 60% feito de lipídios.
Evidências experimentais em animais demonstraram que o efeito da deficiência essencial de ácidos graxos durante o desenvolvimento inicial do cérebro é deletério e permanente. O risco de distúrbio do desenvolvimento neurológico é maior nos bebês com muito baixo peso ao nascer. É provável que bebês nascidos com baixo peso ou prematuramente tenham nascido de mães que foram inadequadamente nutridas, e tendem a nascer com déficits de AA e DHA.
Cerca de 70% das células cerebrais que perduram durante a vida se desenvolvem no período pós-parto; o período mais ativo da divisão celular acontece durante as primeiras semanas embrionárias; após o nascimento, cerca de 60% da energia utilizada pelo bebê para crescer provém do leite da mãe; bebês nascidos com baixo peso são mais propensos a apresentarem distúrbios neuropsicológicos do que aqueles nascidos entre 3,5 - 4,5kg (o baixo peso está relacionado à insuficientes vitaminas e minerais, como tiamina, vitamina B6, ácido fólico, riboflavina e magnésio).
O exercício da amamentação libera, ainda, prolactina, responsável pela sensação de bem-estar e segurança da criança.
Fontes:
Exposição ao aleitamento materno e transtornos mentais comuns na adolescência.
Caroline Rodrigues de Almeida, Evandro Silva Freire Coutinho, Daniela Alves Silva, Elizabete Regina Araújo de Oliveira, Katia Vergetti Bloch, Maria Carmen Viana. 2019
Breastfeeding and intelligence: a systematic review and meta‐analysis
Bernardo L Horta, Christian Loret de Mola, César G Victora. 2015
Association of breastfeeding with behavioral problems and temperament development in children aged 4-5 years.
Liu F, Ma LJ, Yi MJ. 2006
Prenatal and perinatal influences on risk for psychopathology in childhood and adolescence.
Nicholas B Allen, Peter M Lewinsohn, John R Seeley. 1998
Breast-Feeding in Infancy and Major Depression in Adulthood: A Retrospective Analysis.
Peus, V; Redelin, E; Scharnholz, B; Paul, T; Gass, P; et al. 2012
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